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terça-feira, 16 de agosto de 2011

O VELHO ZINHO


O velho Zinho Vigia, é daqueles personagens que passam por nossas vidas e jamais esquecemos, são eternos, enigmáticos, cujo o deciframento é por demasia difícil. Fecho os olhos e o vejo, alto, magro, de voz rouca e ligeira, as vezes em tom ameaçador ou no riso largo. Era um verdadeiro herói e bandido da minha infância e adolescência. Sempre a andar apressado, de olhos atentos a vigiar e a preservar os jardins da cidade.
Há tempos os jardins de Berimbau perderam a beleza, e também a leveza dos casais de namorados, passeando e sentados nos banco de seus jardins, e o belo gramado esverdeado, propício a ficarmos sentados, olhando a lua ou curtindo o fim de tarde, é bem verdade que as vezes durante o verão ficavam um pouco desgastados, mais o certo é que serviam também para os nossos babas, sejam noturnos ou diurnos. Era ai que aparecia o implacável zelador, defensor da ordem jardineira, com seu cipó “caboco”, pondo nos a correr em disparada, numa verdadeira balburdia, misto de alegria e medo daquela figura que aterrorizava os nossos babas e principalmente a nossa gorduchinha, que por muitas vezes era ali mesma estrangulada, rasgada ,sem piedade para o nosso desespero, ou por outras era levada prisioneira para a delegacia.
E quando acontecia de a gorduchinha ser encarcerada, elegíamos entre nós um advogado para ir a delegacia advogar em sua causa, e libertá-la dos grilhões que a prendiam. Mais o velho Zinho continuava lá, na moita, pronto a dar o bote em cima da turma, na verdade, tenho a certeza que nós e o vigia nos divertíamos com aquele corre-corre, por várias vezes o peguei a sorrisos largos, nos perseguindo, aquilo para ele era um verdadeiro exercício de prazer, no fim de tudo eramos amigos brincando de inimigos, e o trabalho dele era preservar os jardins da cidade e o nosso era jogar bola nos jardins para desespero e alegria de ambos.
Zinho por ironia era pai de dois dos melhores colegas e amigos de escola; a bela Tatiana e o Gremista Marcos. Nunca caçoávamos deles, tínhamos respeito pelo pai deles e eles sabiam de nossas peripécias com o progenitor deles. Não conheci pessoa mais zelosa pelos jardins da cidade igual a ele, os jardins eram orgulho dele, várias vezes o vi fitando com um olhar de satisfação, a grama verdinha, os pés de eucaliptos exalando o seu perfume, as amendoeira carregadas e os flaboiant em suas cores majestosas a brindar o velho Zinho, como que dizendo, obrigado amigo pelo zelo que tens a nós.
Mais os tempos mudam, e muitas das vezes para pior, os jardins já ficaram órfãos e já não são os mesmos, e o velho Zinho já não vive mais ente nós. Sua passagem causou-me profundo pesar, sabia que ali, ia mais um personagem que marcou minha adolescência, nunca mais o veria a zelar o jardim e nem passar a vê-lo vendendo o seu leite na bicicleta, foi-se o velho Zinho, assim como a beleza do velho jardim também se foi.

sábado, 13 de agosto de 2011

UMA PERGUNTA PARA DEUS

Quem tem o poder sobre a humanidade? Deus ou o Homem? Uns vão dizer: Deus é maior que tudo e que todos. Mais o certo e a verdade, é que o homem é que detêm o poder sobre a humanidade, é ele quem dita as regras, seja social, moral ou religiosa. É ele quem inventa um Deus para cada sociedade ou pessoa, mesmo que este Deus seja único. A grande pergunta é, se Deus tem poder sobre a humanidade, por que é que uns sofrem mais que outros, poucos tem muito e muitos tem muito pouco? Sobre a ótica social, Deus é extremamente injusto, e não há paraíso além morte que o redima da miséria em que vive a maioria da população.
O homem dita as normas, dita até quem vai para o céu ou inferno. Vejo Pastores e Padres seduzindo seus fieis com suas retóricas, mais o certo é que na mesa deles não falta o pão de cada dia, pois os fiéis dão até o que não tem para satisfazer a sua oratória de mendicância em nome de Deus. Se há um senhor da guerra, este senhor é Deus, por ele milhões tem sido mortos e escravizados, em seu nome, milhões passam fome. Eu pergunto DEUS a onde está você que deixa seus filhos passarem pôr isto?
Todo pai deve proteger seus filhos, amá-los igualmente, mais o que o senhor tem feito é dar mais a uns que a outros. O senhor deixou o poder na mão dos homens e agora ele o controla, diz até como deve ser o seu culto, impõe regras para cultuá-lo. E o seu filho Jesus? Que morreu na cruz para pagar nos nossos pecados. Tenho certeza que ele não previu o tamanho da nossa conta, pois se tornou incapaz de cumprir a promessa do pai, o que é pior tem ajudado, ladrões, falastrões e falsos profetas, que utilizam o seu nome para tirar dos mais fracos. Deus será mesmo você poderoso ou Jesus perdeu tempo vindo aqui na terra?. Isto é, se veio realmente.
Como pode o mundo ser tão desigual, como pode o mundo ser tão maldoso. E não venham me dizer que é por causa do homem. E já que é, por que Deus não faz algo? Tenho certeza se este mundo for melhor, Deus perderá o sentido de existir, quem vai cultuar alguém que não se vê ? E com o mundo andando tão bem, não haveria o por que da existência de Deus.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

QUAL A IMPORTÂNCIA DOS FATOS


O que tem em comum Amy Winehouse e os adolescentes da Noruega? Morreram no dia 23 de julho de 2011, até ai nada demais se não fossem a causa mortis de ambos. Enquanto Amy vivia uma vida no fio da navalha, os jovens da Noruega foram brutalmente assassinados. Mas na imprensa nacional, houve dois pesos e duas medidas para noticiar os ocorridos, claramente o meio de comunicação mais visto no país, a televisão(REDE GLOBO), dedicou na sua preciosa grade de programação maior importância e alta exposição a morte de Amy Winehouse, de que os atentados ocorridos na Noruega.
Frente a ordem social e a paz no mundo, era de esperar que o fato ocorrido no país escandinavo dominasse o noticiário tamanha foi a brutalidade orquestrada pelo assassino Anders Breivik para ceifar vidas inocentes. Mas, aqui no Brasil o que se viu foi justamente o contrário do ocorrido em outros países, que estamparam em seus meios de comunicação a tragédia norueguesa como fato mais importante ocorrido este ano, não deixaram ele contudo de noticiar a morte da Amy, dando-lhe relevância devida, mas não com a enfase observada em nosso país.
Há em curso na Europa uma propaganda xenofóbica, e o ressurgimento de partidos ultradireitistas e ultranacionalistas, que veem no imigrante e no diferente uma verdadeira ameaça à sua nação. Os partidos de ultra-direita da Europa, vem alimentando discursos nacionalistas arraigados de xenofobia, e que nos últimos anos os ajudaram a obterem uma maioria nas eleições de seus países de origem, estas vitorias políticas deste partidos fez com que se acenda a luz amarela em todo o mundo. Foi com um discurso ultranacionalista e xenófobo, que vimos a ascensão de Hitler, e o partido nazista ao poder na Alemanha na década de 30 do século passado. Vimos o que estes discursos de Hitler, causou não só a Europa mais ao mundo, o horror que foi a Segunda Grande Guerra, como as minorias foram brutalmente massacradas, levando ao genocídio de milhares de Judeus e descendentes destes.
Os países europeus começam agora a questionar as ações destes novos hitlerianos com mais veemência, sobretudo os seus partidos políticos, a maioria teme uma nova onda nacionalista, e que possa colocar em cheque a união europeia . Países como França, Itália, Suécia, Áustria, Alemanha, Suíça e a agora Noruega, expõem de vez a fragilidade política em que estão envoltos, em suas fileiras encontram-se ainda sentimentos neonazistas e neofascistas que fazem os imigrantes ficarem atentos, serão eles as primeiras vítimas deste ódio, na concepção destes lunáticos, a culpa de todo o problema econômico vivido em seus países são dos imigrantes, este é o discurso tal qual Hitler usou para que se iniciasse a perseguição aos judeus. Por isso este atentado na Noruega foi e é até o momento amplamente discutido no mundo com apreensão, totalmente o contrário do que temos visto no Brasil, vide no último final de semana a onde o programa Fantástico da Globo, foi praticamente dedicado a cantora Amy Winehouse.
Concordo que era uma superstar do mundo pop, mas daí a morte dela ser mais importante que o atentado contra inocentes na Noruega são outros quinhentos. Devíamos ter vergonha de nossas atitudes, deveríamos estar refletindo sobre nossa condição social quanto a essas questões. Em São Paulo ha grupos neonazistas e apologistas dessas ideias, vide os ataques que nordestinos, nortistas e homossexuais tem sofrido na capital paulista, não estamos nós nesta republica de bananas a salvo desse câncer. Deveríamos estar refletindo e solidarizando com o povo norueguês esta tragédia, mas o que fizemos foi durante todo o final de semana foi colocar em evidencia a morte desta moça, que praticamente cometera o suicídio, em face da vida que a mesma levava, fizemos uma ode ao destempero e a falta de limites cometidos por ela. Não vi um artista comentar ou se sensibilizar com a tragédia norueguesa, enquanto isso todos declamavam com verdadeira adoração os versos da música mais famosa de Amy Winehouse, “rehab”, a onde a mesma já indicava a situação de sua autora, ele simplesmente se negava a se reabilitar, enquanto os mortos da Noruega não tiveram se quer chance de defesa e dos lábios de nossos artistas não vimos uma palavra que fizesse menção a esta tristeza vivida na Noruega. É simplesmente LAMENTÁVEL.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

PEGANDO CARONA NA CAUDA DO COMETA


Em 1986 um fenômeno celeste estava preste a acontecer depois de 76 anos, este fato dividia o noticiário com a eleição de Tancredo Neves para presidente, era ano de copa do mundo, o Brasil vivia uma fase de otimismo exacerbado, pois o país entrava de novo no rol dos países democráticos, ditadura naquele instante já era coisa do passado. Entretanto seus efeitos ainda podiam ser sentido, estávamos à apenas poucos meses de uma nova era democrática, então o Cometa Halley era mais uma de nossas alegrias, eramos meninos, pouco se usava o termo adolescente para justificar esta fase da nossa vida, aliás apesar do momento de euforia, sabíamos e tínhamos consciência de que o Brasil estava a beira da falência, muitos dos nossos pais tinham dificuldades financeira e estavam desempregados, a inflação era galopante e o desemprego alto, mais com a nova condição democrática que acabávamos de obter via eleição indireta, vivíamos a nossa fase de meninos e meninas na maior felicidade e esperança, e o Halley refletia para nós isso nos céus de nosso país e nossa juventude.
Lembro-me bem de que todas as noites íamos para a praça Benjamim Costa, e ali ficávamos até altas horas, olhando para o céu na esperança de vê-lo passar, nos revelando a sua cauda luminosa. Brotava nas rádios músicas com o tema, como a música “Um lindo Balão Azul” de Guilherme Arantes, e bastante cantada por nós, todos queriam pegar carona na cauda do cometa, eram tempos em que podíamos nos dar o luxo de ficarmos pelas ruas até  tarde da noite, sem corrermos o risco de sermos vítimas da violência alheia. Em nosso convívio de amigos, tínhamos caras engraçados, como os filhos de Augusto Vitória. Beto, Guto, Rômulo, a quem chamávamos de miguerme e Neném, este mimado de mais e pouco fez parte da nossa turma, eram engraçados por que tinham verdadeira megalomania para com seus familiares e para si, contavam mentiras cabeludas que quase nos faziam acreditar, tamanha a dramaticidade com que contavam as estórias de sua avó e avô, lá pelas bandas de Andaraí, sem contar no falso protestantismo em que viviam, mais é coisa para outras histórias, o importante era que apenas um deles tinham em seu poder, a única luneta que tínhamos conhecimento na cidade, e eles viviam a fazer figa para nós, mais eram gente boa e deixavam nos deliciar com a pequena luneta, que mesmo sendo pequena descortinou para nós o universo e o cometa que tanto nos fascinavam. Eramos uma verdadeira patota de amigos, alegres e felizes, lembro deles e daquele tempo com saudades, a maioria deles graças a Deus ainda mantenho contato, mais os mais chegados a mim eram Aldinho, Everaldo, Barão, Joelson, Renilson e Guga que com suas artimanhas vivia a pregar peças.
E falando em pregar peças, houve uma noite em que passava das duas da madruga e esperávamos o bendito cometa passar, pois tínhamos a ilusão que o mesmo iria passar tão perto, que iria deixar no céu, o rastro de sua cauda tão afamada e cantada. Beto e Guto resolvem ir embora repentinamente, mais eu e meus amigos continuamos a esperar o cometa chupando laranja na praça, e de tanto esperar, cansei, e resolvi ir embora. Como morava atrás da casa de Totinho, teria que passar na recém criada rua, a onde ficava a venda de seu Ranulfo, e como sempre fazíamos em nossas espera, contávamos e ouvíamos estórias de Lobisomem, da Lebara e outros espectros da cultura popular, e isso nos deixavam a todos com um certo medo na hora de ir embora, e neste dia não foi diferente. Só que isso quase acaba em tragédia, pois eu ia para casa sozinho,e iria passar por um lugar que quase não tinha casas, e não havia uma viva alma na rua a uma hora daquelas, e desci cantarolando uma cantiga qualquer para disfarçar o medo, e ao mesmo tempo em minhas mãos segurava uma faca pontiaguda que estava utilizando para descascar as laranjas, e nada disso me dava a segurança necessária para dissipar o medo que tomava conta de mim ao passar pelo local mais escuro. Eis que de repente pula em minha frente, um vulto enrolado em um lençol branco, na hora gelei e não tive forças para correr, e outro pula atrás de mim, e por instinto que não sei da onde veio, e ao invés de correr para casa, partir com a faca em punho para alvejar aquela assombração, rasgando-lhe o lençol e quase matando um dos meus amigos que se faziam passar por esta entidade. Eu fui com tanta fúria para cima de um deles, que quando ia desferir o golpe fatal, ouvir a voz de Beto gritando. Sou eu! Beto. O mesmo fazia Guto, seu parceiro nessa aventura que quase vira uma tragédia, estava branco, pálido de medo, e eu não poderia estar de outro jeito.
O certo é que passado o susto de ambos os lados, caímos numa gargalhada sem fim que nos foi brindada por uma estrela cadente muito próxima, e que riscou o céu, a mesma era tão grande que pensamos se tratar ser o Halley, e essa foi apenas uma de muitas deliciosas noites a espera deste fabuloso Astro, que vivo não estarei para vê-lo passar de novo, e embarcar em mais uma aventura na cauda do cometa Halley.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

INSTINTO DISSONANTE


Imagem retirada do blog berimbau de garr

De tanto ficar irritado com o atual estado em que se encontra a sociedade, ficar passivo vendo a desorganização, de ficar parado vendo como somos destruídos culturalmente, em nome do lucro e da deificação extrema do dinheiro. Sentir que era hora de falar alguma coisa, de gritar para estes que hoje consomem aberrações musicais, aberrações culturais de tudo que é sorte, QUE BASTA! Basta de ser cordeiro, de ser mais um na multidão, ser apenas eu, ser egoísta em meus pensamentos, não quero esquecer o passado, nem trazê-lo de volta, quero apenas que aprendamos com ele, para construir quem sabe um presente melhor, um futuro melhor, por que do jeito que está, não dá! NÃO DÁ MESMO! Sei o quanto é difícil pensar assim nos dias de hoje, mais me recuso a sucumbir diante destes fatos e a partir deste blog, colocarei todas as minhas satisfações e insatisfações com isto tudo, colocarei aqui histórias e estórias da minha vida e quem sabe da sua também e pedirei aqueles que se sentirem afim de dizer algo deixe aqui o ser "post", deixe aqui um pouco do seu sentimento, e de seu pensamento.
Enfim sejam bem vindos ao blog TOCANDO O BERIMBAU, nome este escolhido por ser um instrumento antagônico, e belo na sua sonoridade e simplicidade, o som do berimbau foi o som da resistência negra, e ainda o é, ele é genuinamente nacional, culturalmente ímpar, pensando nisso, sentir que ficaria a vontade para assim como o berimbau que mesmo com seu som dissonante, ser extremamente harmonioso com a cultura, assim será este blog voltado aqueles que querem mais do que esta sociedade oferece.

“Faço nosso o meu segredo mais sincero
E desafio o instinto dissonante.
A insegurança não me ataca quando erro
E o teu momento passa a ser o meu instante.
E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão.
Teu corpo é meu espelho e em ti navego
E eu sei que a tua correnteza não tem direção.”
(Trecho da música Daniel Na Cova Dos Leões. Legião Urbana:Composição: Renato Russo / Renato Rocha)

SEJAM BEM VINDOS